S. Cristóvão de Ovar
A data de 25 de Julho é o dia municipal da cidade de Ovar e a festa em honra do padroeiro, S. Cristóvão que, após a última reforma do calendário litúrgico, convive, de forma cristã e pacífica, com o Apóstolo S. Tiago.
Ovar não celebra o padroeiro com a mesma pompa e manifestações exteriores com que vive, por exemplo, as procissões quaresmais; mas, nem por isso a festa ao seu orago deixa de revestir a solenidade e sobriedade que, por vezes, cala mais fundo do que o virtuosismo de muitas procissões que mais parecem desfiles de antiguidades, para não dizer de vaidades, e passagem de modelos. A parte religiosa tem sabido manter-se independente das iniciativas locais, dentro daquele bom princípio da não ingerência e da separação de poderes. Esta é a melhor forma de confirmar a autonomia de ambas as realidades - caminho seguro para o reconhecimento e respeito mútuos.
Este ano, a Paróquia quis dar à festa um cunho especial. O P. Manuel Pires Bastos é o pároco há 25 anos, feitos em Dezembro. É uma vida de dedicação à causa desta porção da Diocese que está em Ovar. Além de ser um homem de fé e um espírito renovador, no sentido profético do termo, o P. Bastos é, ao mesmo tempo, um homem da cultura, nos seus diversos domínios. Foi isso que a paróquia quis festejar com ele.
Uma comissão encarregou-se de preparar uma festa em sua homenagem, de acordo com um programa simples, tocante, carinhoso e familiar. A Paróquia quis, sobretudo, que ele contasse, por atitudes, gestos e palavras, a nobreza e profundidade do sentimento que os vareiros nutrem pelo seu pároco, que dispensa, no dizer do Evangelho, os grandes arroubos e retóricas ocas.
De tarde, um sarau musical em que participou o Orfeão de Ovar, sob orientação do Dr. Manuel de Jesus e o Coro Infantil da Paróquia, nascido dos grupos de catequese paroquial, sob orientação da Drª Esmeralda. Pelas 19 horas, a Eucaristia da festa, presidida por D. António Carrilho e concelebrada por 12 sacerdotes e um diácono. D. António Carrilho, que esteve presente em seu nome e do bispo da diocese, proferiu palavras de muito apreço, não só para com o homenageado mas para com semelhante atitude da comunidade, nesta hora em que sacerdotes como o P. Bastos dedicam a sua vida inteira ao serviço de Deus, nos irmãos a quem são enviados como pastores, no meio de privações e sacrifícios que sufragam na alegria da entrega total, por amor.
No fim da Eucaristia, o Diác. Poças entregou duas lembranças ao P. Bastos, em nome de todos os paroquianos: uma placa de prata com uma inscrição, manifestando o reconhecimento e gratidão de todos e um quadro composto a partir de uma fotografia do homenageado, da Igreja Matriz, de um exemplar do jornal paroquial " João Semana", da primeira certidão de baptismo e de casamento assinadas por si, como pároco de S. Cristóvão. Esta composição pretende consignar, para a posteridade, a dimensão universalista deste homem de fé e cultura. Para lá do valor material das ofertas esteve na intenção de todos, o significado. Pelas 21 horas, um jantar com um significativo número de presenças, homenageado, D. António Carrilho, autoridades municipais, párocos da Vigararia, antigos etagiários (hoje presbíteros), Diác. Poças, etc.
Na hora dos discursos, o Diác. Poças falou em nome da paróquia, fazendo um historial da acção do P. Bastos ao longo da sua vida de pastor e homem da cultura, enaltecendo o seu sentido de equilíbrio e independência, sobretudo nos tempos difíceis em que foi posto à prova, aquando da vinda para Ovar ("Verão Quente" de 1975...), a sua capacidade de congregar e motivar a paróquia, imprimindo-lhe um impulso de renovação, num diálogo nem sempre fácil de estabelecer O presidente da Câmara, num improviso objectivo e marcado pela amizade e consideração para com o homenageado, deu conta das suas qualidades de padre e de cidadão que lhe conferem um estatuto de cidadania de referência incontornável, tal o empenhamento e contribuição a favor das causas do concelho de Ovar.
Falou deseguida a presidente da Junta de Freguesia,D. Esmeralda, em nome da qual fez oferta de uma salva de prata. D. António Carrilho manifestou a alegria que lhe ia na alma, perante a manifestação de carinho para com um " filho", dizendo que, sendo os padres filhos do bispo no seu presbitério, "quem meus filhos beija, minha boca adoça". No seu agradecimento, o P. Bastos manifestou a sua surpresa ("Tudo isto me parece um sonho..."), dizendo que não se via retratado em tudo o que fora dito e prometeu continuar a servir a paróquia e o Homem, através de todas as suas dimensões, com o mesmo fervor e empenhamento.
(A.P.)